Apesar das duras experiências que temos vivenciado nessa pandemia, com perdas inestimáveis, o aprendizado, para aqueles que enxergarem que é preciso reorganizar o mundo para reconstruir o futuro, está aí, na nossa cara.
Por Jairo Martins e Silvia Trein Julio
Apenas três meses foram suficientes para colocar em xeque quase tudo o que nós, sociedade, governantes e empresários, estávamos fazendo no mundo. Apesar das duras experiências que temos vivenciado nessa pandemia, com perdas inestimáveis, o aprendizado, para aqueles que enxergarem que é preciso reorganizar o mundo para reconstruir o futuro, está aí, na nossa cara. Temos que partir para execução, pois não há mais tempo a perder.
É preciso reiventar o futuro
É preciso que cada um empreenda a sua transformação pessoal, refletindo sistemicamente tudo o que estamos vivenciando, interpretando a realidade dos fatos, revisitando o passado, conceitos, valores, costumes, posturas, ideologias, teorias e modelos, e parta para a ação de reinventar o futuro, pois o que estávamos projetando nos últimos 2,5 milhões de anos, principalmente nos últimos 200 anos, quando tiveram início as revoluções industriais, não mais funcionará. É preciso reinventar o futuro!
Construímos a nossa economia baseada em um modelo de desenvolvimento orientado para a devastação
Até então estávamos usando o planeta como provedor de recursos, sem a preocupação de que eles eram finitos, como são, na realidade, e sem oferecer as contrapartidas necessárias. O fato é que construímos a nossa economia baseada em um modelo de desenvolvimento orientado para a devastação: “o cortar, o cavar e o queimar”, buscando o lucro a qualquer custo, sem pensar no coletivo, “fazendo”, por assim dizer, as coisas da boca para fora, mascarando, porém sem executar, iniciativas sustentáveis como “PPP – People, Profit and Planet”, ODM – Objetivos para o Desenvolvimento do Milênio, ODS – Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável e a iniciativa ESG – Environmental, Social and Governance – de forma cosmética, puramente marqueteira.
Uma sutil e real preocupação de uma minoria, no decorrer dos últimos anos, foi sem dúvida notada
Uma sutil e real preocupação de uma minoria, no decorrer dos últimos anos, foi sem dúvida notada, ao identificar que, com a maneira na qual estava focada para conseguir o seu bem-estar “individual e egoísta”, haveria prejuízos imensuráveis e irreversíveis em um futuro que, até então, se considerava distante e que haveria tempo suficiente para reverter todo o estrago causado. Temas voltados à ética e ao meio ambiente foram os primeiros a serem abordados nos principais fóruns e discussões mundiais.
“Crescimento ilimitado em um planeta de recursos finitos?”
Veio muito tímida, lenta e sem eco e força. Só começamos a repensar a alterar nosso modus-operandi a partir do momento em que fomos afetados e prejudicados, com impactos diretos na nossa realidade. Não foi por falta de aviso, pois, apesar dos vários alertas, o resultado está aí – as externalidades negativas: desigualdade social, aquecimento global, poluição do ar e da água, geração de lixo, escassez de alimentos, saúde e educação precárias e desemprego crescente. Por que elas não são consideradas no cálculo do PIB, que parte de um conceito falso, baseado na cultura de excessos: crescimento ilimitado em um planeta de recursos finitos?
O vírus está nos brindando com o despertar salutar de uma consciência coletiva e solidária
Há mais de seis meses, o mundo foi atingido por uma pandemia oriunda do Coronavírus. Não se pode precisar como surgiu, mas não se deve ignorar que o Planeta Terra é um grande organismo vivo composto de inúmeros ecossistemas complexos e interdependentes. É muito provável que esta pandemia seja uma resposta biológica da natureza à desigualdade social, à economia predatória, à devastação ambiental e ao corporativismo de uma política delinquente e irresponsável, focada apenas no poder e não na competência. O distanciamento social, além da sua importância profilática, nos deu a oportunidade de prestar atenção, refletir e digerir tudo isso a que estamos sendo submetidos. O vírus está nos brindando com o despertar salutar de uma consciência coletiva e solidária para compreendermos a gravidade da relação que tivemos até agora com o Planeta e com a Humanidade. O momento é de reflexão e ação imediata.
Há uma urgência na mudança de mindset para mitigar todo este processo de degradação dos valores reais do ser humano e de todo o meio do qual ele depende para viver e sobreviver. Necessitamos de ações efetivas, eficazes e sustentáveis com foco no bem comum.
Estamos diante da necessidade de nos transformar, revolucionando o sentido de tudo o que fazemos, para que a excelência se traduza em prosperidade coletiva e o crescimento não vá além das fronteiras da sustentabilidade e da ética. Perceber, refletir, inovar, agir e mudar são os desafios mais urgentes dos governos, das empresas e da sociedade.
“Terão que arregaçar as mangas para reinventar e reconstruir outro mundo”
O desafio agora é “Reinventar o Futuro”.
Muitos se iludem quando falam em “Retomada” e em “Novo Normal”. Ora, “Retomada” pressupõe voltar ao ponto onde estávamos, ou seja, ao “Velho Anormal”, e “Novo Normal” não existirá, pois todos, sem exceção, terão que arregaçar as mangas para Reinventar e Reconstruir outro Mundo, em um ritmo alucinado, desconstruindo o que não nos serve mais, mudando o sentido e a forma de viver, ser, estar, trabalhar, usar, fazer e conviver. É preciso, nesse momento, nos acostumarmos a patamares menores, porém equilibrados, civilizados e melhor distribuídos, sem tanta desigualdade e sem a obsessão mercantilista que nos guiou até há pouco tempo. Só poderemos tirar algum proveito desta situação, se tivermos, os que sobreviverem, a humildade e a vontade de aprender com as lições que estamos tendo o privilégio, ou mesmo a bênção, de sentir na pele. Não há dúvidas de que sairemos diferentes dessa situação, e para melhor.
Tudo vai depender do nosso querer e da nossa escolha. Estamos no meio de uma transição, sem volta, diante da oportunidade única de conduzir o processo de Humanização da Sociedade. Resiliência, ressignificação, aprendizado, inovação e capacidade de se reinventar serão os ingredientes para reorganizar o nosso País e o Mundo, de uma forma que faça sentido, com a participação de todos, exercendo verdadeiramente o nosso papel de cidadão, propondo e trazendo soluções,
“Reinventar o futuro” é
a nossa tarefa daqui
para a frente”
… aproveitando as oportunidades que possam atender coletivamente à Sociedade, sem individualismo, ganância e vaidade. Tudo isso vai passar, mas muita coisa há de ficar, senão a natureza não terá cumprido o seu papel de restaurar as coisas para equilibrá-las de acordo com as suas próprias leis, quando estas são alteradas de forma irresponsável, indiscriminada, egoísta e inconsequente.
Portanto, “Reinventar o Futuro” é a nossa tarefa daqui para a frente, pois “Retomada” e “Novo Normal” não serão suficientes para empreender as transformações que queremos e precisamos.
T&S Academy – Consultores Associados
Jairo Martins da Silva & Silvia Andrea Trein Julio